Na Copa de 2014 eu não precisava ver os jogos porque eu era “melhor” que isso. Nossa quanto tapa na cara levei desde lá. Tô aqui pra avisar que eu gravei um vídeo pro IGTV (instagram) que tava dentro de mim querendo sair fazia muito tempo porque acho esse assunto tão tão tão importante e urgente no mundo do autoconhecimento, autodesenvolvimento e espiritualidade.
Usar espiritualidade como fuga. Uma busca como fuga. Até a terapia pode ser tornar fuga. Sim, pode acontecer. Eu acho que passei por quase todos viu?
E entendi uma correlação MUITO IMPORTANTE: desde que tenho estudado codependencia tudo tem feito muito sentido: Veja, se temos uma ferida, exemplo codependecia, onde viemos de situações disfuncionais e aprendemos a esconder nossos verdadeiros sentimentos e quem somos, e nos cobramos por sermos quem somos, essas “buscas todas” podem ser pratos cheios.
Vamos em busca de curar justo essa ferida e caímos em outra ou até aumentamos o rombo da nossa, infelizmente (mas é aquela coisa básica clichê-brega-chata porém real e necessária: tudo é aprendizado e precisamos perdoar estes passos da jornada porque pelo jeito precisamos passar por isso para aprender algo que não sabíamos!)
Ou seja, parece que estamos indo em busca de cura, parece que estamos mexendo e lidando com questões nossas, com a nossa dor, mas na verdade estamos tapando um buraco e não lidando com nós mesmos. Mas de fora parece tudo muito incrível.
Na verdade ao invés de aprendermos o básico: a nos amarmos mais por quem realmente somos e tudo que sentimos, e afrouxarmos um pouco mais nossas cobranças e nos liberarmos mais para ser quem somos… aprendemos a nos cobrar mais, porque cria-se um padrão, um modelo do que ser “livre” é. Que fere muito o real sentido de liberdade. Além disso, tem aquele pequeno detalhe sórdido: saímos cagando regras por ai para os outros. Até porque antes, codependentes, só tínhamos valor quando ajudávamos alguém, ou quando éramos mais “fortes” do que realmente éramos, ou fomos mais amados quando botávamos o outro em primeiro lugar, então novamente cá estamos nós, tentando ocupar esse lugar.
A busca por ser “perfeito” dentro que já nos cobrávamos, que escondemos de todos (shiu, ninguém pode saber!) agora tem uma cara que vira nossa nova máscara e nova prisão: ser um ser de luz, grato, que flui na vida. Fluidez que vira dureza porque vira obrigação. É falsa. E que vira falta de comprometimento com a vida real de fato.
Acabamos, lamentavelmente, por mergulhar raso em nós (acreditando e justamente querendo mergulhar profundo em nós) mas nos afastamos e seguimos apenas uma imagem do que achamos que temos que ser e acreditando de que lá na frente encontraremos um pote de ouro de felicidade que nos salvará (novamente o elemento “algo vai me salvar”, que não eu mesma) porque seguimos todas as regras (assim como nas relações codependentes, se eu abrir mão de mim e meus limites, no final você vai me amar né?!)
Ficamos com medo de nós, de cada pensamento e emoção, ficamos só na mente, endurecemos em pensamentos mágicos. Paramos de curtir a vida, se entregar de verdade pq acertar agora é mais importante
Perdemos de vista a realidade, e os limites tão necessários para nossa cura para encontrar nossa verdadeira identidade! E essa é a minha preocupação. Se por exemplo somos codependentes – e talvez nem sabemos – mas temos essa tendência a rigidez e a se auto-isolar emocionalmente de nós mesmos. Se temos esta ferida: sim, iremos atrás de qualquer coisa para nos curar (ou salvar?!). Mas na caminhada encontramos tantas vezes informações que sutilmente nos levam a entender que é um pecado ter uma identidade, limites, emoções importantes como a raiva que nos ajudam a nos proteger. E só aumentam nossa sensação de ser realmente diferentes, separados e mais especiais que os outros. O que nos isola mais ainda emocionalmente, criando um ciclo disso, e um ciclo de carência, que muitas vezes não assumimos e que não suprimos por nós mesmas ainda (que é justamente o que precisamos aprender!).
E pense comigo, se já tivermos também uma sensibilidade maior (alta sensibilidade, faça o teste aqui) e já sentimos mais enfaticamente o outro, como vamos voltar para nós se precisamos sermos bons, amáveis, dóceis e compreensíveis com outros, como prega a suposta boa etiqueta do mundo espiritual? Antes disso tudo acontecer precisamos urgentemente aprendermos a sermos amorosos conosco!
Como falei antes, assim como na codependencia, na fuga espiritual terceirizamos o amor próprio para algo fora de nós. E de novo caímos no velho algo de fora vai me salvar. Para os workaholics é o trabalho, para alcoólatra o álcool. Nós também escolhemos algo para fugir de nós mesmos só trocamos fugas por fugas mais bonitas.
Mas a gente segue se machucando porque em busca da vida lá na frente perfeita e iluminado do jeito teórico que escolhemos acreditar que ela deve ser, a gente perde de vista a vida agora, imperfeita sim, difícil sim, mas cheia de nós. Ansiamos por esse encontro em nós. E ao não aceitar o mundo imperfeito… não aceitamos a nós imperfeitos. E dói. Porque ser codependente dói.
Mas se estamos fazendo tudo certo: porque eu continuo secretamente ou não, me sentindo tão mal? Talvez porque não me permita me SENTIR mal ou qualquer cosia que esteja sentindo ainda…
É sobre spiritual by pass, autoconhecimento by pass, “coaching” by pass, terapia by pass, ou como uma leitora falou: “descubra seu propósito by pass” ou qualquer coisa que usemos para nos infligir mais cobranças que eu quis falar nesse vídeo no meu canal IGTV (instagram) contando a minha experiência nos últimos anos do que percebi em mim (e ao meu redor), porque de repente pode te ajudar a se ver de alguma forma no seu processo… Espero que possa trazer mais amor próprio por aí!
E um p.s.: e gente, não estou querendo dizer que a gente não possa, deve, ou não vá fugir, a gente faz isso toda hora e vai fazer e as vezes isso é bem necessário por uns momentos. E tá tudo, se assim a gente quiser, e se nos ajudar. Se tá te fazendo bem, tá tudo bem. Essa conversa é para que a gente pense sobre algo que talvez não tenha se dado conta ainda que está fazendo, para fazer de um jeito com mais “consciência” – vulgo saber que tá fazendo e também aliviar a barra de usar a espiritualidade ou outras buscas pra se machucar mais (que é a minha questão, não é quando faz bem, é quando faz mal), e para que a gente possa saber, as vezes, essa busca, tem mais coisas escondidas do que a gente imaginava, tem uma dor chamando que parece que tá sendo olhada e muitas vezes não tá. Mas cada um sabe do seu processo, e cada um de nós tem seu tempo. E a nossa busca não precisa ser anulada por tudo isso, é mais uma questão do famoso cliche chato, porém real, “equilíbrio”.
Nesse vídeo conto um pouco mais sobre minhas descobertas sobre esse assunto:
E se você acha essa mensagem importante não deixe de marcar, ou compartilhar as pessoas que podem gostar de saber mais sobre isso também!
E sempre quero saber: me conte como é para você esse processo! Beijo grande, Ari.