Eu costumava ser a pessoa que fazia mudanças sozinha. Em um dia: Pá. Tudo sozinha. Sabe galera áries ascendente em capricórnio? Parecia que eu conseguia carregar 287374 kg sem sentir. E já me mudei de muitos lugares, e cidades. Eu lembro de uma vez que ajudei minha irmã numa mudança dela onde levei mais caixas que ela e os 2 caras da mudança juntos. Além de carregar sozinha, eu era rápida. Não porque sou forte tá? Nunca tive bíceps em dia. Mas porque eu era a fortona, não sabia que era do tipo codependente independente, que havia aprendido a vida toda a se desensibilizar da própria dor. Aprendi a não sentir ela. Nem notar ela: “não, não, pode deixar… eu aguento”.
E assim, tudo tem um lado bom. Isso pode ser uma grande vantagem em alguns momentos, sabe? Tipo aquela história mãe que levanta o carro que passou por cima do filho sabe? Nossa, eu sei, é exemplo literalmente pesado. Mas ser assim sempre… pode te ferrar também. É preciso sentir quando dói pra não se demorar no doer não é mesmo? Pra não permanecer onde não é seu lugar. Pra poder dizer pro outro: “Pará, assim dói. Assim você me machuca. Assim não quero. Assim não mereço.” Pra poder berrar se for preciso. Sempre que for preciso. Porque é preciso ter liberdade pra isso. Sempre.
E essa mudança tá sendo diferente. Primeiro por estar tudo mega confuso. Difícil. Emperrado. E ao mesmo tempo tendo que ser rápida. Encontrar lugar rápido, sair rápido e tomar várias decisões e ações importantes rápidas. E tudo isso tem mexido demais emocionalmente comigo. Apesar de amar mudar… isso mexe sempre demais comigo, fico muito sensibilizada… um mix de tristeza e melancolia com excitação e ansiedade.
Nem vou listar aqui todas as minhas preocupações com o agora e com o futuro e os apegos do passado, e ao mesmo tempo tem uns breves momentos de liberdade de me olhar e falar: é tá tudo bem né… tô no meio, não tô sem chão. Só tô no meio. Entre ser uma coisa e me tornar outra. Entre ir de um lugar para ser de outro, por um tempo. Sou o meio do recheio de um sanduiche amparado por tudo que já vivi e tudo que viverei e eu tô aqui no meio de algo vindo a ser. Essas coisas lindas e poéticas que vem… e que quem dera me sentir assim sempre sanduiche.
E essa mudança tá diferente. Estou vendo frutos dos meus pequenos passos de formiga rumo a cura. De repente olha eu ali me permitindo receber ajuda! E de muita gente. E olha eu ali: pedindo. Olha eu ali de alguma forma me incluindo mais. Me incluindo na comunidade que eu mesma criei. Nas pessoas que encontrei. Me mostrando dizendo o que preciso e convidando as pessoas a estarem comigo.
Essa mudança tá diferente porque eu não fiz tudo num dia: pá! Não… tô fazendo aos poucos. Ué? – penso eu – Dá pra ter prazer e se divertir mesmo não tendo terminado tudo num dia como imaginei e feito tudo “perfeitamente, blablabla, todasparanoias.com.br“. Eita, existe mesmo uma outra forma de viver aparentemente nesse planeta. E penso: uau, um monte de gente deve viver assim. Deve ser bom!
E ai percebo… eu me sinto mais agora. Eu sinto meus limites. Físicos. Emocionais. E quando eu me sinto eu não consigo mais passar por cima de mim e só ir. E isso é estranho e confuso. Mas é muito melhor. E ontem quando fizemos uma parte da mudança… foi leve. E foi tão aconchegante. Diria até prazeroso. A parte de estar ali amparada. Estranhei. Não fiz tudo. E gostei. Gostei de não ter terminado tudo. E mais uma vez percebo… realmente muito dos meus avanços tem parecido demais aquilo que eu considerava fracassos.
E eu tenho muita gente a agradecer nesse processo, tenho muita gente me apoiando de pertinho, essas pessoas sabem quem elas são, e elas fazem parte da minha cura, porque amar e ser amada cura. Estar perto dessas pessoas cura.
E você, me conta, como é pra você receber ajuda, se incluir, se mudar, lidar com a resistência além dos limites da sua dor física e emocional.
Olá Ari,
Algum tempo venho me percebendo exatamente assim: fortona, codependente independente, me viro sozinha. Casei ano passado e 1 mês depois descobri um câncer de mama ( com 35 anos) e foi através desse aprendizado que estou conseguindo me curar. Porque assim tive que obrigatoriamente me tornar completamente dependente das pessoas que me amam. Meu marido por um período foi meu “cuidador” o que era extremamente difícil para mim…
mas hoje lendo você começou a fazer mais sentido ainda o que eu precisava curar em mim.
Eu precisava parar para olhar para mim, deixar ser cuidada, amada, soltar, principalmente ter a consciência de que eu não tenho o controle de tudo!
Gratidão sua linda e que bom que voltou, senti sua falta.
Beijos
Sei exatamente quando vc diz ser uma ariana com ascendente em capricórnio! Somos!
Obrigada querida eu estou chocada leindo todo o que aconteceu na minha vida, minha mãe depressiva e meu pai ausente… Eu de criança hiperativo e quasi morri aos 6 anos afogada… Em fin, que ótimo poder de dar conta e trabalhar o amor próprio… Achei você no momento perfeito… Gratidão
Muita compaixão pela sua história Rosana! Que maravilhoso poder exercer o amor-próprio. Fico feliz que esteja aqui comigo, um beijão