(continuação do post parte 1: onde eu contextualizo um pouco do que acontece com a gente e como os papéis podem estar invertidos na nossa história e dentro de nós)
E então conforme venho entendendo e aceitando coisas da minha história, a teoria das constelações familiares, ajudam no processo da codependencia. Pois me mostram que eu não preciso: querer, me colocar, ou deixarem me colocar acima dos meus pais ou irmãos mais velhos. Claro que isso não vai acontecer perfeitamente, mas no geral, na raiz da relação é muito importante entender isso. E assim, comecei a entender que filhos: recebem e agradecem. E só. E eu sei que parece radical, mas dá um alívio sabe? O resto é bônus! Claro que vou querer contribuir para o bem estar deles, SE eu puder, e COMO eu puder, sendo apenas filha. Que alívio saber: “Eu nunca fui responsável pelo bem estar deles.”
E para que isso aconteça, me vem em mente algumas coisas que:
Temos que abrir mão:
- O senso de ser especial com nosso amor tão potente e incrível que salva o outro.
- O senso de sermos mais responsáveis, sensatas do que somos.
- A ideia de que sabemos o que é melhor para o outro, de querer salvar, resolver a vida do outro, tirar ele de onde ele está.
- De “poupar” nossos pais. Sabe isso de poupar? De se preocupar antes de nós mesmas se eles vão ficar bem? De evitar “brigar” (impor limites, etc.) com o pai ou mãe porque estamos tentando os proteger ou poupa-los, para que ELES não fiquem mal? Eu não estou dizendo pra você ir brigar (talvez pra alguém que não seja codependente e não tenha sido criada num lar disfuncional, isso pode ser bem o contrário). Mas para mim e para muitas de nós, muitas vezes é exatamente essa a liberdade que a gente precisa agora, saber que se for preciso, nós estamos em primeiro lugar e não precisamos ser mais as responsáveis nem por toda a relação (medo de não falarem mais com a gente) e nem pelo bem estar deles (medo de ficarem mal e de quem vai salvar ele? Eles precisam e na verdade sabem se virar sozinhos). E também porque quando brigamos em família é muitas vezes quando confiamos no amor, sabemos que podemos nos colocar e ainda sim seremos amados, e isso é mega importante para nós isso internalizarmos.
E o que ganhamos, abrindo mão disso?
- Podemos errar! (vamos dando adeus ao perfeccionismo)
- Podemos pedir ajuda!
- Podemos não saber…
- Podemos querer, pedir, receber…
- Vamos equilibrando o sentir-se: ora superior, ora inferior aos outros. Se a gente fica nesse papel acima do nosso natural, vamos nos colocar acima e o outro abaixo, e provavelmente porque achamos que devemos estar acima no fundo vamos nos sentir muito aquém desse lugar tão acima e isso é o que nos fará nos sentirmos, na verdade, muito inferiores, entende? Colocamos uma meta irreal (e ai dobramos, rs). E ai tentamos compensar esse senso se inferioridade masis ainda de muitas formas e/ou ficando mais acima ainda pra ninguém perceber e a gente não se sentir vulnerável ou de alguma forma nos desassociamos do nosso sentir para não sentir toda a nossa vergonha, e outros sentimentos desconfortáveis de acharmos que não somos o bastante (simplesmente porque a meta é irreal desde o começo!).
- E ao invés de nos sentirmos especiais, quase perfeitos e superiores, ganhamos de nos sentir “normais”! Yay! Especiais todos somos, mas de uma forma igual. Pessoas “normais” é o queremos ser, pessoas possíveis, pessoas imperfeitas, com qualidades e defeitos. Pessoas que por isso conseguem amar saudavelmente de igual para igual, uma outra pessoa que também se sabe “normal” (nesse sentido, pq normal ninguém é graças a Deus!). Pessoas que podem errar, pedir desculpas, mudar e não precisam se proteger do medo de não serem perfeitas.
- Podemos ser mais “mimados”! – Hãn? Mimada, eu? Jamais!. Esse é o pior pesadelo pro codependente se achar mimado! Em resumo, muito do que eu olhava e considerava com uma pessoa mimada, na verdade era uma pessoa sendo “normal”… sendo filha, então talvez você também possa começar a descobrir algo parecido. Ser mais “mimada” e “egoísta” pode te lembrar que você existe de verdade e que tem necessidades, pode pedir e receber e não precisa se preocupar tanto com o outro.
- E dependendo da situação, muitas vezes, podemos até ganhar mães e pais “novos”, que talvez nunca tenhamos experimentado. Imperfeitos? Sim. Vão nos dar o que queremos? Não do jeito que queremos, mas talvez vez um pouco mais do jeito que eles conseguem… e talvez, isso possa ser suficiente pra que a gente mude e ai vá em busca de receber e pedir de outras pessoas e larga mão dessa dinâmica. p.s.: Eles podem no início forçarem para continuar no velho lugar “trocado” (é preciso ser firme, por isso a terapia) porém com o tempo, eles mesmos se sentem melhores nos seus papéis.
E então agora, um vídeo da série THIS IS US – uma das séries mais fodas e lindas que eu já vi na vida, uma obra de arte eu diria, que me faz chorar, que me faz sentir, me ver em todos personagens, me curar e curar a minha história e me conectar comigo.
Esse pedaço meu tocou quando eu vi, me chamou atenção e me lembrou desse post que tava com vontade de escrever. E eu consegui filmar… Nele você vai ver uma mãe, explicando uma coisa fundamental para a filha: “Não é seu trabalho me fazer me sentir bem, esse é o meu trabalho!”. Esse é o meu destaque do vídeo. O resto dele tem muitas outras coisas que chamam atenção e quem vê a série todo sabe também que a mãe, Rebecca, peca em muitas coisas – natural como todo ser humano, claro – e que tudo isso poderia ser comentado, mas agora fiquemos com esta parte e atenção ao destaque:
E para finalizar, queria trazer um exemplo de filha que me tocou demaaaaais. De uma outra série que me marcou muito esse ano que foi: La casa de Papel. Que além da gente querer transar com todo mundo do elenco, e dela ser impecável, o que me marcou foi a personagem da Raquel, a policial-negociadora-investigadora. Vocês viram? Vocês lembram dela? Se alguém não viu e até melhor porque pode ver e notar isto, e pra quem já viu, não sei se vai lembrar porque talvez não estivesse de olho nisso.
Mas a Raquel, é uma personagem forte: investigadora fodona, vida profissional em destaque, negocia como ninguém, é mega inteligente, etc. Mas o interessante é a relação com a mãe dela. Eu achei muito legal como eles deram esse lado vulnerável pra ela. Na relação com a mãe, esta mulher que também já é mãe e tem seus 40 anos, é totalmente filha… é bonito de ver, ela continua sendo para a sua mãe apenas sua filha.
Ela liga para a mãe só pra chorar, deita no colo e recebe cafuné, se permite ocupar esse lugar de filha perante a mãe. Filha que pede ajuda, filha que não fica tentando salvar a mãe, filha que não tenta ser mais forte que a mãe. E isso me ajudou, foi me dando repertório, e toda vez que eu perdia referência de como ser filha eu lembrava da Raquel com a mãe dela, não da Raquel no profissional, no mundo, mas da Raquel filha. Mesmo sendo ficção. Eu pensava: eu acho que eu também não me coloco muito nesse lugar aí não é? Será que eu posso me deixar também pedir, mudar de assunto, falar das minhas necessidades e talvez me abrir pra receber esse colo e cafuné e ver no que dá? Tem que ser firme… não vamos receber de forma perfeita, longe disso, mas a gente vai se autorizar, talvez pela primeira vez, a viver e ser ver de uma maneira diferente!
Espero de coração que tenha ajudado, como falei antes, esse tema é mega difícil, mas acho muito importante falarmos sobre isso! Um beijo gigante, Ari
Agora me conta de você! Como é isso pra você e também me diz se você gostaria que eu trouxesse mais exemplos filmes e séries pra relacionar com o que temos falado por aqui? E não deixe de compartilhar ou trazer pra essa conversa mais alguém possa precisar desse assunto! Muito obrigada
Eu simpesmente amei os dois textos. Amei os exemplos. Me ajudou tanto! Continua, só continua..
Eu sou filha de pais divorciados desde q me entendo por gente. Minha mãe me teve aos 20 anos de idadd biológica e 10 anos de idade emocional.
Eu cresci ouvindo sobre a traição do meu pai, sobre ela ter sido trocada pela atual mulher dele e sobre como o meu nascimento tinha de certa forma “acabado” com a vida dela.
Eu teria impedido q ela se formasse, e q um homem bom a pedisse em namoro.
Eu tb teria atrapalhado a felicidade plena do casamento do meu pai, pq sempre fui a pedra no sapato de minha madrasta.
Então eu cresci querendo provar para o mundo como eu era especial… tirava as melhores notas e tentava ser a melhor filha q alguém podia ter. Porque eu precisava me sentir digna de algum amor.
Tenho 31 anos. E há bem pouco consegui notar isso. E até hoje eu me pego querendo ser a filha super compreensiva para meu pai e a solucionadora de todos os problemas da minha mae, inclusive financeiros, embora ela ganhe mais q eu.
Depois de mto sofrimento eu comecei, instintivamente, a tentar me colocar nesse lugar de filha. Nossa, e como ele eh confortável. A batalha eh diária. A culpa eh companheira. Mas a consciência tem começado a ficar mais tranquila. Espero seguir assim.
Uau Nat, obrigada por compartilhar a tua história, porque quem ler com certeza vai se ver em algum lugar dela e ajuda a exemplificar mais. Eu sinto muito por tudo isso, e fico mega feliz que tu já instintivamente começou a voltar pro lugar de filha, e eu compartilho sobre como é confortável e libertador, mas de como é uma batalha diária (dentro e fora da gente) e como a culpa é companheira… tenho aprendido muito a “aceitar ela”. Muito amor por ti! Beijão
Ari, primeiro gostaria de dizer que tô muito feliz em te ver novamente, eu não tinha seu Instagram e literalmente não sabia mais de vc.. fui te rever pq sigo seu canal e um vídeo novo apareceu. Agora esse tema me pegou aqui de jeito, eu já “constelei” essa questão dos papéis investidos sem nunca nem ter pensado nisso antes de chegar na constelação. Mas eu ainda carrego isso comigo e o pior repasso isso pro meu relacionamento. Eu também as vezes só queria um colo de mãe, mas minha mãe vive num mundo tão diferente do meu que eu não maioria das vezes tenho vergonha de expor as minhas questões e mais ainda a minha busca. Parece que vejo a minha mãe dizendo ” mas você deveria ter feito isso pq vc sabe que isso me deixaria feliz” ou QQ coisa do tipo… Essa capa de cortina que eu não queria é a coisa mais difícil do mundo de abandonar. Eu não sei muito bem o que é codependencia, mas com ctz ela está presente na minha vida. Gostaria de ver mais temas desses e com ctz mais analises a partir de séries. Obrigada pelo seu tempo e disposição em comprar isso.
Bah Verônica, vamos por partes, rs. Primeiro tô feliz que tu me achou de novo, e que tá curtindo a nova fase! Depois queria te dizer que entendo muito quando tu fala sobre já ter constelado… pra mim o que eu percebi é que tem que ter uma mudança no comportamento no dia-a-dia mesmo, e isso só veio pra mim quando caiu a ficha da teoria e com ajuda do meu terapeuta… e entendo demais a questão de ter vergonha de expor questões para mãe… é justamente isso que muitos de nós sentimos, como se não fossemos dignas e fossemos repreendidas… fosse coisa pouca. Que bom que de alguma forma isso já está mexendo nas cortinas por aí. Espero que fique mais e a gente possa trilhar esse caminho de cura pelas nossas vidas de volta e inteiras! Beijão
Boa noite Ariana!
Te conheci através do Instagram e a cada dia me identifico mais com seus posts. Sou Ariana tbm (do signo de áries com ascendente em capricórnio). Me identifico muito com as questões apontadas por você. Iniciei terapia o ano passado, porém tive que fazer uma pausa por falta de grana. No meu primeiro dia de terapia tive uma lição de casa, que era classificar as pessoas mais próximas a mim, e aí a ficha caiu! Ninguém representava seu papel… fiquei chocada, pois nunca havia parado para refletir sobre tal. Minha busca a terapia se deu por estar com problema no meu relacionamento com o meu marido na época. Tenho 30 anos, me separei há uns 3 meses, vindo de um relacionamento de 11 anos (8 de casada). Nessa brincadeira toda fiz meu marido de pai, acabando assim com praticamente todos os sentimentos de homem e mulher. Minha mãe era minha filha, irmã e por horas amiga, mas nunca minha mãe. Ainda estou muito perdida, pois depositei toda minha segurança no meu ex marido e hoje pareço estar sem as pernas para andar. Uma vez que ele até hoje foi o único a me dar segurança. Estou em busca do meu melhor a cada dia. Não é fácil, pois há dias que dá vontade de voltar a zona de conforto e se sentir protegida novamente. Porém, lembro do quanto foi difícil sair e espero para que com o tempo as coisas de ajeitem… tarefa difícil para uma ariana, não é mesmo. Obrigada por tudo que divide conosco, ajuda a entender que não estamos só. Beijos!!!
Ari,
Eu sempre me culpo e me julgo por me achar mimada e querendo as coisas do meu jeito. Tenho muita dificuldade em me permitir ser egoísta. Não sei pedir, tenho uma dificuldade enoooorme de receber, mesmo quando me oferecem. Quando me perguntam se eu preciso de ajuda, mesmo que o mundo esteja desabando, eu falo que tá tudo bem, que não precisa. Tenho sido tão “fodona” é tão forte desde sempre que ando esgotada, tanto fisicamente como emocionalmente. Me identifiquei com tudo, ou quase tudo. Mas essa parte do ser mimada, foi assim: UAU! Eu acho que estou me aproveitando dos outros. Tirando vantagem. E eu também percebi que não sei ser filha. Me sinto super responsável pelo bem estar da minha mãe. Hoje menos que quando era adolescente e morava com ela. Foi uma fase difícil que passamos por uma separação dos meus pais e muito desequilibrio emocional da parte dela. E eu entrei no papel de cuidadora. Hoje, ou eu quero superproteger, ou eu me sinto fria e distante. Não sei me aproximar e ser filha. Muito obrigada pela seu texto. Jogou luz em muita coisa que precisava ser iluminada. Você é incrível.
Nem sei descrever o nível que me identifiquei. A palavra mimada me causa arrepios. O quanto não falo de coisas simples com meus pais e tenho evitado o enfrentamento para não desgastá-los. A primeira vez que dei limites ao meu pai, ano passado, por um áudio do whatsapp, eu quase infartei, e em minha cabeça algo dizia que eu podia engolir o sapo. Acho que só um café não vai ser tempo suficiente quando te ver, vou precisar de um dia inteirinho. Seu trabalho anterior me ajudava muito, mas é tão tão tão bom te ver assim, desnuda, humana, real. Gratidão, gratidão, gratidão.
Olá, Ari!
Primeiramente, quero dizer que vc é uma querida e que amo seu trabalho! Tanto a “velha era” como a “nova era”! Haha
“Segundamente”, quero dizer que “uau!”. Esses dois textos sobre o papel da filha foram um belo de um tapa na cara! Algumas questões eu já havia começado a conhecer com a terapia (que tive que interromper) e agora ficou muito mais claro pra mim tudo isso.
Meu pai faleceu qd eu era criança, me vi no papel de cuidar da minha mãe (que entrou em depressão após o falecimento) e da minha irmã mais nova. Dps tive que lidar com a ausência da minha mãe, que passava o dia trabalhando pra poder sustentar a gente, e continuei sendo mãe da minha irmã em período integral, e da minha mãe qd ela estava em casa. Até hj me sinto mãe das duas, e nada filha. Não consigo me permitir ser filha. Não consigo expôr meus problemas e pedir colo pra minha mãe, pq sei que ela vai se doer de preocupação, ou vai me julgar por ser fraca, boba, etc.
Mas vou tentar adotar a postura e comportamento de filha aos poucos. Sei que não vai ser nada fácil, mas sei que é preciso. Por mim, pelos meus relacionamentos amorosos (que sempre são problemáticos por conta de toda essa carga), pela minha vida como um todo.
Sobre a exemplificação através de séries/filmes, achei ótimo! Pude me espelhar em “como ser filha” através da Raquel, ter uma imagem mental sobre isso.
Enfim, obrigada. Vc com certeza me ajudou e ajuda muuuuuuuita gente com seu trabalho tão cheio de amor.
Muita luz pra vc, e que vc consiga cada vez mais evoluir no seu papel de filha também.
Gratidão imensa!!!
Ari, eu amei os textos. Me fizeram repensar muito de como a minha dinâmica familiar me influenciou. Acho que eu não tinha que necessariamente cuidar de alguém, mas todos já estavam tão fora do equilíbrio, que eu me vi na obrigação de ser perfeita, boazinha, melhor aluna, exemplo, e dar ZERO trabalho, para que tudo ficasse bem. É como se eu estivesse caminhando numa cordinha em que um movimento fora do eixo me faria cair e todos cairiam juntos. Pesado, acho que nenhuma criança está pronta pra isso. Mas não há culpados, né? É uma questão de repensar. Eu gostei muito dos exemplos de ´series/filmes. Se você puder trazer sempre, seria ótimo. Porque sempre quando tem uma discussão teórica dessas, eu penso: “ok, entendi, mas COMO fazer isso?”. E isso nos traz alguns exemplos do “como”, né? Modelos, referências… Muito obrigada por sua partilha sempre. Beijo!
Parabéns pelas palavras, elas me ajudaram um.pouco mais a compreender a inversão de papéis que minha terapeuta já havia identificado na minha história. Minha mãe ficou 40 anos casada com meu pai, uma relação de submissão e sofrimento e eu fui a “psicologa” da minha mãe. Não sei bem o que é ser filha que ganha colo, chore e sofre. Eu aconselhava minha mãe desde os 6 anos de idade e me sentia responsável por sua felicidade. Isso refletiu em toda minha trajetória de vida e acabei num relacionamento de submissão…há cinco anos pedi o divórcio e estou ainda em processo de redescoberta de quem eu sou. Tive uma coragem gigantesca porque deixei tudo pra trás. Saí com minha filha e meus pertences, abri mão da casa…a vontade de ir embora foi tanta que só queria ser livre…e a cada dia me redescobrir mais e tenho orgulho de quem sou. Agradeço pelo teu texto!!
Me vi no seu texto!
Me sinto, aliás, estou em processo de me curar disso!
Obrigada por ser tão sincera e transparente!