Desde a minha volta aqui as redes sociais e com este blog já toquei um pouco nesse assunto e ele sempre chama muita atenção e gera muitas perguntas. Eu acho um tema super mega delicado, afinal para muitas de nós, família não é sinônimo de coisas bonitinha, agradáveis, seguras, e fáceis, e é bem dolorido olhar, admitir, e também dolorido muitas vezes olhar pro lado e ver que pra muita gente família de origem é um lugar aparentemente bom de se estar. Eu vou arriscar e tentar o meu melhor explorando apenas essa parte dele dentro da minha visão e ponto de vista. Eu não conheço a sua história, e sei que tem muitas situações extremamente delicadas, mas vamos ver aonde conseguimos chegar hoje!
Começo explicando que isso não é um post pra que a gente saia culpando ninguém e também não me sinto capacitada para te dizer como lidar com todas as suas dores do passado, porque estou aqui curando as minhas também.
Mas uma coisa eu sei: precisamos ter modelos. As vezes a gente precisa que alguém desenhe pra gente mesmo! Se ninguém me ensinou a me relacionar saudavelmente ou eu não vi muito disso, eu preciso que me ensinem e eu preciso estar disposta a aprender admitindo que não sei.
Quando eu comecei a entender que: na minha cabeça a minha relação de filha estava invertida eu percebi que na verdade não sabia muito bem “ser filha”, mesmo tendo sido filha desde o meu primeiro dia no planeta Terra.
E aí percebi que a TV, filmes, e literatura, podem ser muito úteis nesse processo. Apesar deles também cagarem a nossa sociedade por um lado, com alguns modelos de relação não saudáveis enaltecidos, depois que a gente aprende a diferenciar isso, aprende o que são LIMITES, como estabelecer eles nas relações, e aprende mais sobre as relações familiares fica divertido observar as relações nas séries, filmes, livros, etc. e ajuda na aprendizagem.
Quando assisto, vou vendo na “prática” – claro que é ficção – aquilo que as vezes só entendi na teoria. É a parte que a vida “desenha” pra mim. Mas não eu pra copiar, não pra ficar presa endurecida num modelo, mas pra ter um registro, ao menos, pra poder chamar quando a gente não tem referência nenhuma. Ou pra quando se esquece, ou quando revê aquilo na nossa vida a gente poder dizer: Aha! E aí a gente pode assistir algo e pensar: “Hummm posso fazer um pouco mais assim na minha vida também”, ou podemos ver e pensar sobre como não queremos (mais) agir, ou no que pode ser feito numa determinada situação.
E pra mim ver filhas sendo apenas filhas e mães e pais sendo mães e pais tem me ajudado a entender como posso encontrar a filha em mim, e ver meus pais no lugar de pais. Novamente, não buscando um lugar utópico, que também as mídias podem insinuar, mas sim apenas para encontrar mais daquilo em mim. Puxar, chamar, invocar. Sabe?
E eu tenho aprendido muito nos últimos 2 anos sobre como ocupar o meu verdadeiro lugar, na minha família. E isso significa muito na minha recuperação, cura ou processo – chame como quiser – em relação a Codependecia, porque estão intimamente relacionados e você vai entender um pouco mais a seguir:
Este pedaço do livro “Mulheres que amam demais” pode te ajudar a entender como isso aconteceu, como invertemos os papéis e como nos tornamos as fortonas, codependentes-independentes (como tenho gostado de chamar também – valeu Julinha pela ideia). E depois trago um pouco da constelação sistêmica familiar do Bert Hellinger, que nos ajuda a entender, pela teoria colocada em prática, como podemos ir revertendo isso dentro de nós (as vezes fora não dá, infelizmente, mas dentro de nós podemos mudar e isso é o mais importante):
“A maioria de nós cresce e mantém os papéis adotados em nossas famílias de origem. Para muitas de nós que amamos demais, esses papéis significam que NEGAMOS nossas próprias necessidades ao tentarmos suprir as necessidades de outros membros da família.
Talvez, tivéssemos sido forçadas pelas circunstâncias a crescer rápido demais, assumindo prematuramente responsabilidades, porque um dos nossos pais estava muito doente física ou emocionalmente para exercer suas funções parentais. Ou talvez, um dos nossos pais estivesse ausente devido à morte ou ao divórcio e tivéssemos tentado preencher esse vazio, ajudando a cuidar de nossos irmãos e da mãe ou do pai ausente. Talvez tivéssemos nos tornado a mãe em casa enquanto nossa própria mãe trabalhava para sustentar a família. Ou vivido com ambos os pais, mas como um estava zangado, frustrado ou infeliz e o outro não reagia solidariamente vimo-nos no papel de confidente, ouvindo detalhes de seu relacionamento co que não podíamos lidar emocionalmente. Procedíamos assim porque temíamos pela mãe ou pelo pai que sofria caso não recebesse atenção, e também temíamos a perda do amor se não representássemos o papel destinado a nós.
E então não nos protegemos, e nossos pais também não nos protegeram, porque precisavam nos considerar mais forte do que éramos.” Pelo medo de perder amor, pelo medo pelos nossos pais, mesmo sendo imaturas tomamos estas responsabilidades e acabamos protegendo-os. Quando isso aconteceu aprendemos cedo e bem demais como cuidar de todo mundo, exceto de nós mesmas“. ~ Robin Norwood, Mulheres que amam demais.
Responsabilidades como: se sentir responsável pelo bem estar do casamento dos pais, bem estar dos avós ou pessoas da casa, mãe/pai depressivos, alcoólatras, etc. Algum dos pais ausentes, nós como confidentes, conselheiras, melhores amigos responsáveis por animar os pais, um membro da família caótico que tomava toda atenção dos pais e eles não davam conta, etc…
Essas coisas nos fizeram:
1) “crescer antes do tempo”, somos elogiados por isso, funcionamos muito bem no mundo, e aprendemos coisas úteis, mas não dá pra crescer antes do tempo, não totalmente, uma parte fica interrompida, a emocional, e as coisas ficam fora de lugar. Sabemos muito das coisas mas sabemos pouco de nós e do sentir.
2) Acreditar que nós éramos responsáveis pelo que veio antes de nós, que estava acima de nós, quando nós deveríamos ser cuidados. Trocamos as ordens internas e externas, e então se cuidamos de quem veio antes de nós, quem cuidará de nós, pensando nesta ordem da coisa?
3) Acreditar no que todo codependente acredita: NOSSO AMOR VAI SALVAR! E muito disso faz a gente se atrair por pessoas problemáticas para: curar, salvar ou controlar através do nosso AMOR, tão potente. “Eles que apenas não provaram o nosso amor ainda, mas quando provarem…”, “nunca mais vão nos abandonar” e dentro de nós estamos inconscientemente pensando: e finalmente vão nos dar o que queremos. (Lembra do meus últimos posts aqui? eu falo sobre como a gente não aprende muito sobre necessidades, sobre pedir ou sentir que tem direito, e como isso faz a gente usar esse amor para manipular o receber de volta, e tá tudo bem tá? Foi assim que teve que ser até agora.).
4) Fez a gente acreditar que precisamos ser “mais do que somos” para funcionar no mundo, que precisávamos ser perfeitos para quem nos amava não se perder, ou as coisas não ficarem fora de lugar ou controle.
Você vê como isso causa uma puta de uma confusão dentro da gente? A parte “boa” por assim dizer, é que a gente não precisa ir lá trás e consertar tudo o que houve, porque infelizmente não dá. E claro, que tem benefícios imensos na terapia em rever tudo isso e olhar com calma e resgatar o passado. Mas o que quero dizer nesse momento em relação a isto é mudando agora nosso comportamentos vamos mudando lentamente porém profundamente estas ideias erradas sobre quem precisamos ser para ser amados. Sobre o que merecemos, sobre nossas necessidades, etc. (É bem interessante. Você pode conversar mais sobre isso com algum especialista ou com seu terapeuta para ter apoio nessa tarefa!).
E no meu ano sabático (2017) eu pude me aprofundar um pouco mais em constelações familiares (Thanks, Bert Hellinger). E apesar de já ter me aventurado muito nas constelações há anos… só então ali a teoria começou a fazer sentido pra mim e começou a mudar a minha experiência profundamente: Quando eu sou filha, e deixo de tentar ser mãe dos meus pais ou irmãs, eu vou para o que é meu, as coisas começam a fluir diferente (foi a promessa da constelação…). E pra mim… olha, elas começaram mesmo. Tenho praticado, com apoio do meu terapeuta, com mudanças sutis – os melhores tipo de mudança as vezes – no meu comportamento que vem mudando tudo, completamente.
Então se você é como eu, que teve muitas vezes que estar nesse lugar trocado e entendeu amor dessa maneira confusa, saiba: Você não é responsável por fazer seus pais se sentirem bem. Você não é esposa, marido, mãe deles, você é apenas filha e você é apenas irmã dos seus irmãos. E isso é suficiente porque isso é verdadeiro, isso é a ordem, isso é o que você é.
(Esse texto continua aqui sobre: o que temos que abrir mão e o que ganhamos abrindo mão de certos comportamentos e a cena do This is Us e um pouco de La Casa de Papel pra gente!).
(E como sempre eu quero saber de você! Como é isso pra você e também me diz se você gostaria que eu trouxesse mais exemplos filmes e séries pra relacionar com o que temos falado por aqui?)
Gratidão pelo conteúdo!
Passo exatamente por esse processo, sou filha de uma mãe narcisista e não tinha a menor idéia de onde vinha a culpa do mundo que eu carregava.
Adoraria mais conteúdos como este.
Obrigada Katia, adorei saber que quer saber mais, e sinto muito pela tua situação. E entendo muito sobre a culpaaa! Já um alívio saber de onde ela vem né?! Beijo gigante!
Amei todo post e o tema, descobri algumas destas coisas q você falou, em terapia, teve um livro (o drama da crianca bem dotada, leu?) q me ajudou muito a entender o meu entendimento sobre o que é amor, a distância dos pais na infância me fizeram ter de aprender sozinha o q era amor e aprendi errado, estou tendo que reaprender e acho q isso levará a vida toda e não sei se vou conseguir mudar, preciso pra isso, entender o meu valor…. tema longo e complexo. Obrigada pelo texto adorei as referências das séries.
Oooo meu deus, mais um livro que eu já tô louca pra ler, me segura Braaasil! Eu já ouvi falar dele, de vez enquando esse nome surge. Obrigada pela dica. E obrigada por compartilhar um pouco do teu processo, a gente sempre se vê uma nas outras! Beijãoooo
Exatamente neste tempo da minha vida a ficha está caindo, me identifico demais com seus conteúdos.
Feliz pelo teu momento e te desejando coragem e muito amor por você enquanto as fichas caem, porque eu sei que dá uns tilts! Beijão
Oi Ari! Sigo seu conteúdo há bastante tempo. Estudando codependência eu lembrei da sua aula sobre O voto da perfeição daquele curso lindo desbloqueando! Estou gostando muito dos seus posts, agora com as referências de filmes ajuda muito a entender o processo. Seguindo aliás as referências que você passou eu fui pesquisando na internet e achei o canal do youtube do Ross Rosenberg que ensina muito sobre codependência, (tá tudo em inglês nos vídeos dele mas para quem sabe inglês, é uma fonte imensa) especialmente falando da união entre codependentes e narcisistas do ponto de vista da família e depois do ponto de vista dos relacionamentos afetivos. Os codependentes acabam escolhendo parceiros narcisistas porque tiveram na família um dos pais ou os dois que eram narcisistas também. Esse é um assunto bem importante, né? Beijão e parabéns pelo blog! PS. Vai ter desbloqueando para o amor este ano? <3
Ai, Ari, tão difícil sair desse papel de quem cuida, de quem precisa cuidar, de achar que podemos resolver todos os problemas do mundo. Ando me vigiando, olhando pra mim mesma com mais amorosidade, fazendo lembretes de que não tenho que ser a salvadora da vida de ninguém. As vezes consigo, as vezes só me resta acreditar que conseguirei na próxima tentativa. Acho que trabalho com pais exatamente por perceber o quanto essa relação influi na nossa existência, o quanto o que eles nos ensinam nos guia. Só depois das suas falas no assunto é que dei nome ao que tenho percebido em mim: essa codependência da independente fortona…
Oi… Ariana primeiramente preciso dizer q estou muito feliz com a sua volta… ficava revendo todos os seu vídeos no YouTube… Antes de fazer análise tinha uma vaga ideia de estar no lugar errado mas não sabia o qt isso era ruim pra minha vida! Agora tratando em análise… e se Deus quiser volto pro meu lugar de filha um dia!
Obrigada, Ari.
Amei o post! Me tocou muito. Estou fazendo terapia para entender a minha dificuldade de socializacao e compreensão daquilo que sinto e la temos conversado muito sobre a relação com a família e os papéis invertidos que me fizeram(e ainda fazem) ser mãe de todos. Só dar, nunca receber. E encontrar esse post foi como um sinal do universo, uma inspiração …. espero conseguir ressignificar isso tudo. Grata!!!
Ariana, muito obrigada. Me identifiquei 100% com os dois posts que li seus, sobre codependência e relacionamentos ruins e este acima. Tbm sou filha de mãe narcisista. Meus pais se separaram comigo ainda bebê, mal conheço meu pai, minha mãe nunca desenvolveu espírito materno por mim, apenas cobranças, fui criada pelos meus avós (o q acho uma benção conhecendo meus pais) e vivi relacionamentos amorosos conturbados a vida inteira, onde sempre havia algo ou alguém para eu consertar e me dedicar, além de mim mesma. Seu post fez todo o sentido pra mim, e por mais q no fundo a gente saiba o q se passa, nos fazemos de fortonas e não mudamos o padrão de fato. Muito importante ouvir uma voz de fora da nossa cabeça falando sobre a urgência da mudança, Dá força. Obrigada, seu papel é muito importante!
Sinto muito, e te entendo Mariana. Fico muito feliz por ajudar e feliz por receber as tuas palavras! Seguimos <3 Um beijo gigante!
Gostaria que desse exemplos concretos no dia a dia sobre como voltar ao lugar de filha é nao sentir culpa por isso ou achar que se está a abandonar os pais. Eu tenho agora 44 anos, sô há pouco tomei consciência disso mas à minha mae nao quer largar o meu lugar, está sempre a pedir ajuda para tudo e eu quero “fugir”disso é ela revolta-se porque acha que eu lhe devo isso !