Me fizeram essa pergunta no stories (instagram: @eu.sou.ariana) ontem, e não é a primeira vez que me fazem e eu amei porque eu amo falar disso também. Me perguntaram sobre meu cabelo e curiosamente eu tinha escrito esse post há 2 dias atrás e tava pra postar. Tá aí a resposta e meu post contando sobre minha jornada capilar e o que isso te a ver com a minha cura, leia até o final para entender:
Nunca estive tão feliz com meu cabelo. Péra. Talvez isso seja mentira porque ano passado todo eu consegui deixar ele inteirão e ele tava lin-dô e eu tava amando também. Mas o que eu quero dizer mesmo é: Acho que pinto meu cabelo desde meus 13 anos… e já tive quase todas as cores e cortes. Inclusive eu mesma cortava meu cabelo até uns anos atrás.
Teve uma fase braba da adolescência que minhas compulsões foram para o cabelo e minha mãe teve até que esconder todas as tesouras de casa porque eu sempre precisava cortar mais um pouquinho. Foi uma adolescência braba, digna dos clichês. Teve compulsões, perfeccionismo, isolamento, cobranças e durezas, revolta reprimida, auto-estima baixa, drogas, sexo, rock’n roll, depressão, anorexia, e que hoje vejo a ligação disso tudo a codependencia.
Bom mas voltando, por conta disso, de me testar tanto com tesouras e cores, desenvolvi um talento e por algum tempo quis ser cabeleireira. E quando viram as coisas que eu conseguia fazer sozinha me ofeceram vaga em salão pra ganhar 30mil por mês. Acreditam? Mas o q aconteceu é q desde de lá q eu não sei qual é a cor natural do meu cabelo. E de alguma forma… para mim, isso era um pouco de: Não saber quem eu sou.
Aí, no começo do ano, nos primeiros dias me deu um estalo, foi instintivo, estava saindo da nuvem escura do sabático, e me veio: preciso mudar meu cabelo e me deu vontade de escurecer. Sempre tive um certo medo de mim morena. De ficar séria demais. Mas eu queria ver como seria integrar a Ariana q estava aprendendo a se levar a sério mas com leveza… e eu gostei. Gostei de me ver diferente. Talvez mais eu, não sei. Não é campanha pra dizer q a cor do seu cabelo tem poder de te tornar mais você ou não.
Mas quando você está passando por um processo, de cura, onde o foco é deixar de ser um monte de coisas que não é. Deixar pra trás algumas máscaras pesadas, papéis, idéias, conceitos e autoimagens idealizadas sobre si, se permitir ser natural até no seu cabelo e ver o que acontece é bem significativo e mexe com um monte de questões. Ele tá pintado nas pontas porque tá cobrindo o loiro mas a raiz está natural. E eu tô a-man-do descobrir e conhecer meu cabelo depois de quase 20 anos sem dar descanso pra ele. Tô amando me ver no espelho.
E com isso fui descobrindo outras coisas que nunca tinha parado pra pensar antes, como: Eu acho que comecei a pintar o cabelo porque todas meninas pintavam. Desfiei meu cabelo grosso (lindo, hoje vejo) porque queria ser igual as outras. Queria pertencer. E não queria ser eu mesma. Adolescência, aquela coisa. Você quer ser original, só que não. Você quer é muito pertencer, mas disfarçadamente, sem que ninguém perceba seu desespero. O lance é fazer carão e ter o cabelo descolado.
Depois quis ser loira porque as meninas loiras eram consideradas mais bonitas onde eu cresci. Além disso a Madonna era loira e a Gwen Stefani era loira. E elas pareciam saber o que tavam fazendo. E eu com meu pai, loiro de olho azul, que teve 5 filhos – que sabemos – e mais 2 adotados, e que teve apenas uma filha de olho claro e loira, que não era eu, acho que me pegou como a segunda mais galeginha e quis que eu carregasse as origens germânicas das filhas deste casamento com minha mãe. Então ele, que participava pouco da minha vida, me dava água oxigenada pra dar uma clareada no cabelo ao sol. Assim pra ficar natural. Ele era vaidoso. Tem muita coisa de beleza que aprendi com ele. E acho que tudo isso, as meninas, a gwen, o pai loiro, fez com que eu acreditasse que eu era uma “melhor” eu sendo loira: pra ele, pra vida e pro mundo. E mesmo que eu pintasse de ruivo, que amava mais até que o loiro, e tivesse tido todos os tons de vermelhos possíveis. Acho que ficou marcado que eu era pra ter sido loira. E que eu loira iria mais longe. Ah, a sociedade e seus padrões.
Mas bem, e eis que estou aqui agora com essa cor, que não sei de qual é. Mas sei que é a minha. Sei que sou eu. E olha só! Talvez eu seja ela, a mulher dona dessa cor, desse cabelo e dessa história e de tudo que ele viveu. Talvez eu seja essa mulher que vejo no espelho e que escreve sobre isso. Eu tô me re-conhecendo, sabe? E não é apologia ao cabelo natural, não! Acho maravilhoso a gente poder brincar de pintar e cortar. Eu amo mudanças! Amanhã mesmo posso virar ruiva, loira, desfiar tudo, o que for.
Mas agora eu me sento tão bem com minha cor natural e com meu cabelo, e com minha franjinha bapho moderneltyka nova cortada pelo cabeleireiro com preço justíssimo e talentosissimo que me indicaram aqui no bairro. Já tem uns fios brancos? Já… eu não via antes. O loiro escondia. E acho que adquiri muitos ano passado sabático, foi punkzão (viu meu stories hoje? Contei um pouco). E talvez eles, os fios brancos, regridam agora que tô mais tranquila. E eu acho a coisa mais linda mulher grisalha. Quero ser uma quando crescer. Mas assim, agora não. Tá Vida? Agora eu quero só cabelo natural, mas não tão natural assim. Já tô lidando com muita coisa e não tô afim de brancos agora. Então nem falar mais disso. Vou fingir não ser comigo. Vou me dar esse direito.
E o que posso dizer é que nesse momento de recuperação tenho gostado de me olhar no espelho e me reconhecer de um outro jeito, jeito que esse que sou eu. Cou sem branco. Aceitando ou não. Eu.