Tomando vinho, fumando um cigarrinho de tabaco gostoso que eu gosto de bolar quando bebo, sentados no sofá, falando da vida, das coisas da gente.
Eu conto onde tô… como tá sendo meu momento.
Eu falo o que eu sinto sobre o que é ser eu.
Meus desafios.
Isso é novo entre nós, assim nesse nível, antes eu tinha o hábito de contar só o que “podia”, só o que tava “aparentemente” resolvido dentro de mim. Pra não dar trabalho, pra não parecer vítima, pra não parecer louca, pra ninguém me ver.
Perguntei pra ele rindo, sorrindo, e agora fazendo voz de entrevistadora de TV e brincando de entrevista: Como era ser ele? É bom ser assim? Como é ser assim, como é ter se sentido amado por quem se é desde pequeno, como é não ter tanta coisa pra ficar pensando? Pra ficar se debatendo… Tantos dilemas.
Queria ser assim.
Mas sou assim do jeito que sou.
Sou complexa.
Essas coisas todas me fizeram profunda talvez, ou talvez eu sempre tenha sido assim… ou foi a dor? Ou foi o abafar da dor?
Eu escuto ele e ele me escuta.
Ele ri, me acolhe – não sei se tava esperando essa reação – ele me olha sem pressa, sem a falta de paciência que eu aprendi a ter comigo, sem me achar esquisita e doida como eu tantas vezes me acho, como tantas vezes achei que fossem me achar, como me acharam um dia, como achei que me acharam um dia.
Como é bom contar pra ele de mim e ter esse lugar sem julgamento nele, sem o tentar me consertar, só alguém me olhando, me vendo, e nem sei o que esse alguém pensa ou vê quando me olha, mas me sinto bem, sinto um olhar de um certo tipo de amor. Me sinto amada, ou pelo menos aceita, me sinto relaxada. Sinto que posso me dar esse amor também. O espelho do outro me ajuda a me encontrar. Eu estou sendo eu junto com o outro, e é bom estar aqui.