Viajei e passei uns dias sem abrir o livro com as Meditações diárias do “Mulheres que amam demais”. Quando voltei li estas últimas reflexões numa tacada só e achei que valia muito escrever sobre elas e a gente continuar a nossa conversa que tá rendendo muito e eu tô amando! Dividi em 2 posts porque ficou longo, então recomendo ler os dois pra fazer mais sentido, mas faz o que você quiser :P. E lembrando que não sou especialista e estou aqui compartilhando minhas ideias e o meu próprio processo, e que mesmo levando tudo isso muito a sério porque trata-se de mim, também é importante não levar isso a ferro e fogo no sentido de tentar me cobrar de novo ser perfeita, então espero que você possa ser gentil com você mesma também. É o que desejo.
Dito isto, a primeira mensagem que achei bacana trazer aqui foi essa aí em cima!
Esse texto é super interessante. Pra mim, faz todo sentido, nos últimos anos essa tem sido uma mega lição: entender o que é ajudar e o que não é, entender como conselhos – os mais sutis numa conversa amiga com a melhor das intenções – podem disparar em mim e no outro essa dinâmica codependente.
Nesta mensagem a minha atenção vai para como a nossa ajuda para qualquer pessoa – o livro sempre fala de relacionamento heterosexual afetivo mas poderia ser qualquer pessoa e relação – e também como a ajuda dos outros para nós pode rapidamente ser tornar um ato: invasivo*.
“Desrespeitar o processo do outro”, já pensou sobre isso? É tão natural querer ajudar o outro, querer dizer pra ele que vai ficar tudo bem ou como ele deve fazer o que achamos deve fazer. Pra nós é natural. Muita vezes queremos dar garantias as pessoas de que tudo vai ficar bem. E queremos muitas vezes dar as garantias que no fundo nós não recebemos e estamos loucas pra dar. Na verdade a gente segura tanto a barra do outro, a mão do outro porque no fundo estamos loucas é por uma mão, e por alguém que possa nos dar o mesmo apoio. E é natural ter essa necessidade, mas ainda, muitas, ou na maioria das vezes, não pedimos ou queremos que o outro faça isso sem a gente querer fazer pela gente em primeiro lugar.
Então o ajudar alguém no cenário “codependente”, como temos chamado – tem 2 pegadinhas bem interessantes:
- É o prato cheio que queremos. Ajudar o outro neste caso nos afastas de nós porque o ajudador/codependente ganha o que ele mais quer: fugir de si mesmo. “Ahhh eba, deixa e eu aqui me distrair só um pouquinho com este ser que eu sei que pode/deveria fazer isso e isso e isso que seria bem mais feliz!” ou “Eeee olha como eu sei o que tô fazenduuu” #sqn. E isto, o ajudar o outro adiciona drama a nossa vida, o drama do outro, pois estamos com medo de nos conectar com o nosso drama, a nossa história a ser curada, as nossas dores, desejos, necessidades, a nossa criança incompreendida, precisando de ajuda (viu como ficou dramático só de ler!).
- E ajudar o outro fortalece uma crença que nos atrapalha muito: a de que estamos no controle e sabemos o que é melhor. Somos controladoras, okay? Eu sei… eu sei… a gente tenta disfarçar de “don’t worry about a thing… cause every little thing is gonna be all right”, mas né, aqui entre: nós bem sabemos que no fundo queríamos é controlar quase tudo (e olha as vezes é difícil de perceber como fazemos isso em quase todas situações).
Então, depois de muito tempo, eu tenho entedido assim, vê se faz sentido aí pra você: Ninguém sabe o que é melhor para ninguém. Ninguém. (tirando eu sobre algumas pessoas… mentira, brinks! haha só uma parte minha que invadiu o texto aqui). Falando sério: Não importa diplomas, a religião, anos de vida. Ninguém sabe da jornada de ninguém, mesmo que pareça super que a gente já tenha visto esse filme, já saiba de tudo, não tem como saber se aquilo que o outro tá passando agora, do jeito que ele tá passando não é o que ele deveria passar, sabe? Uma coisa boa pode ser muito ruim, e uma coisa ruim pode ser muito boa.
Então, se tiver, olhe para essa ilusão, do controle com carinho. Questione-se sobre o saber mais que os outros, porque quando fazemos isso, isso nos bota em desigualdade com o outro e nos deixa superiores, intocáveis (e queremos ser tocadas). Nos tira do lugar de iguais, que é o que mais desejamos sabia? Pra se relacionar tem que ser igual. Mas esse desejo também é o que mais temos medo.
Podemos devagarzinho começar a confiar na vida, no outro. E largar o controle que aprendemos porque tinhamos que prestar atenção em tudo que acontecia a nosso redor! Achamos que se a gente deixasse algo nosso que não podusse ser visto aparecer tudo ia ruir, não íamos sobreviver, nossa família ia sucumbir, nossa mãe ia deprimir… cada uma de nós tem sua história e seus motivos. Cuide é desses motivos, dessa história linda ai dentro de você que pulsa e te pede carinho e deixa o outro lá se debatendo, pode ser bom pra ele.
Ver o outro de fora, nos ajuda a entender e escolher se é amor, se dá vontade natural de apoiar o outro sem precisar se meter!
Então mesmo que alguém nos peça. Fiquemos atentas ao que isso desperta em nós e desperta no outro: é a fome com a vontade de comer. E lembremos: Nossos processos de individuação envolvem aprendermos a confiar em nós mesmas, seguir, errar muito e bancar nossas escolhas.
Aceitemos e vamos dar conselhos quando solicitados, e se assim quisermos. E liga aí a sirene se você tem recebido muito conselho indesejado. As pessoas o tempo inteiro querem nos dizer como estamos nos sentindo, o que acham que deveríamos fazer ou como responder a vida, até porque muitas vezes nos colamos nesse lugar por carência, e tá tudo bem também, o lance aqui é se amar e se perdoar. (Esse assunto de conselhos não pedidos e tudo mais, dá todo um outro post, depois me diz no comentário se gostaria de ler mais sobre isso, e como é isso pra você!).
(esse post tem segunda parte, recomendo ler o dois porque escrevi eles como uma coisa só, mas faz o que você quiser ;))
E espero que tenha te ajudado e tô louca pra te ouvir, me conta nos comentários, como foi essa leitura pra você, como tem sido seu processo e seguimos aqui juntas falando desse tanto de coisa que a gente ama!
Alguns adendos:
*sobre atos invasivos: gente, pra quem é codepentente entender o que é invasivo e qual são os limites das coisas é tipo aprender outra língua! A gente nem sabe o que é isso direito, juro, nos últimos anos tive que fazer curso, ler livros e terapia pra começar a entender o que eram LIMITES. Talvez pra outras pessoas que não tem esse perfil isso não seja algo pra ficar tão de olho, porque assim, a gente se invadir ou ser invadido, vai acontecer toda a hora, sem querer e tudo bem desde que cada um saiba se “defender” e/ou estiver mais bem no seu próprio eixo. Essa pessoa não vai ser gravemente afetada e vai saber o que fazer. Mas no nosso caso é preciso observar mais com cuidado para o que é e não invasão, e também entender o que é se fechar achando que está colocando limites (ai que coceira pra escrever um milhão de coisas sobre isso mas fica pra mais um post!).
*tudo que eu achar bacana: livros, cursos, pessoas, grupos de apoio eu vou indicando aqui aos poucos porque estou com muito conteúdo pra escrever sobre e não dá tempo de fazer tudo… então devagarzinho vamos incrementando a conversa!
*sobre cuidar das necessidades: não significa supri-las sozinhas e sim saber pedir. E pra saber pedir temos que nos deixar sentir, e depois aprender a receber também. São nossas liçõeszinhas (zonas) 🙂